Um ano de Fredda nas nossas vidas, e a gente tá como?
- alinebmariano7
- 9 de jan.
- 6 min de leitura
Alerta de spoiler: esse texto será uma declaração de amor à minha filha de quatro patas, que nunca vai conseguir ler isso. Portanto, se você é do time que não entende o amor que somos capazes de construir por esses peludos de olhos arregalados e brilhantes, esse texto não é para você. Agora, se você adora chegar do fim de um dia intenso de trabalho e ser recebido por lambidinhas e mordidinhas, regadas a muito pelo – e com potencial de deixar seu coração mais leve e feliz -, tenho uma história que você vai gostar. Então separe pipoca, lencinhos, petiscos (é claro) e boa leitura.
Era uma vez, um casal apaixonado e com um sonho: ter uma Bernese linda, gorducha, peluda e amorosa. Eles decidiram que o nome dela seria Fredda, assim como uma personagem totalmente secundária (na verdade, está mais para figurante) de Senhor dos Anéis, que eles só foram lembrar que existia depois de já terem se decidido. Como o filme é o preferido dos dois (e fez parte da história de amor deles), eles pensaram: “Por que não? Faz todo sentido”. Mas só tinha um problema: a Fredda ainda só existia na cabeça deles.
“Vamos?” – Ele disse para a sua esposa.
“Vamos.”- Ela respondeu.
Depois de organizarem (mais ou menos) suas vidas, carreiras, finanças e moradia, ela finalmente chegou à vida deles. Ela era linda (como eles sempre imaginaram), gorducha (como eles sempre quiseram), peluda (como eles sempre sonharam), e pouquíssimo amorosa. Na verdade, ela era caótica. E por que não seria? Para ela, no auge dos seus 60 dias de vida, a vida era uma grande farra. Aliás, ainda é.
Plot twist: sim, querido curioso, essa história é a nossa vida destrambelhada (e cheia de reviravoltas e amor) de quando a nossa Bernese marrenta chegou e bagunçou tudo. E na mesma intensidade desse plot twist repentino e [in]esperado, veio a nossa frustração com uma história de conto de fadas que só existia na nossa cabeça. Bastou ela acordar da primeira soneca aqui em casa, para a nossa vida ficar tão caótica quanto ela. Numa mistura de cocô espalhado, xixis a todo momento e muito choro, percebemos o que todos já sabiam (e nos alertaram): ia ser muito difícil, e bem diferente do que a nossa mente fantasiosa nos fez acreditar. E não, ela não ia nos amar logo de cara. Aliás: por que amaria?
“Só por que você me dá comida e um lar quentinho acha que eu sou obrigada a te amar? Não pedi para ser levada pra sua casa não, mulher. Talvez se você me levar pra creche todos os dias eu possa repensar nosso relacionamento. Talvez não.” – disse Fredda, a Bernese mais linda do mundo.
Esse tal de amor incondicional que um cachorro tem pelo seu dono foi a maior fake news que eu caí nos últimos tempos. Até hoje, a Fredda gosta da gente bem mais ou menos, e quando a convém. Ela se rebela, bufa, fica emburrada no quarto quando brigamos com ela e, definitivamente, só faz o que pedimos quando tem petisco na jogada.
Já eu? Eu a amo desde o primeiro dia. Aliás: por que não amaria?
Eu sei que disse que a vida ficou um caos, mas quando não é? Todas as escolhas que fazemos balançam nossa rotina, nossa saúde emocional e nossas convicções. E se o preço a pagar por uma companhia peluda, que é capaz de me trazer de volta de todas as minhas crises de ansiedade e me reconectar com “o agora”, for um ou outro cocô espalhados, eu acho que está bem em conta, você não?
O começo foi o mais difícil. Ela não podia sair de casa (porque ainda precisava tomar algumas vacinas) e morria de ansiedade. Chorava tanto, que me deixava desesperada, sem saber o que fazer. Minha solução? Gastar a energia dela com concentração e truques. Em poucos meses, ela já sabia sentar, dar a pata, deitar, fazer xixi e cocô no Weasy e até o famoso Castigo, que eu inventei aqui e é um sucesso. Se ela surtar, o Castigo é a nossa artimanha mais poderosa – ele nunca falha.
Depois que ela começou a poder sair de casa, percebemos que nada seria capaz de dar conta da ansiedade da nossa Bernese ultra atlética. Você já deve ter visto vídeos das pessoas tentando ensinar mobilidade para essa raça que costuma ser preguiçosa e gorducha, mas não é o caso da minha filha (que aparentemente “puxou” a mim). Ela gosta de longas caminhadas, corridas, acorda [relativamente] cedo, apesar de me odiar todos os dias por levantar às 4h, e brinca muito. O apelido dela nas creches costuma ser “A Doida”, e eu juro que ficaria chateada se não fosse tão real. A Fredda é doida. Doida, amigos. Doida.
Descansar e dormir nunca é a primeira opção para ela. É como se todo dia fosse o último, e uma nova oportunidade de aproveitar ao máximo. O que isso mudou na vida do meu marido? Nada. Na minha? Tudo. Ela me segue e me inferniza até eu levá-la para passear ou para a creche. A missão dela é simples: sair de casa para conhecer “gente” nova e causar. Ela pula, late, se joga. Se joga em tudo e em todos. Como eu disse desde o começo: caótica.
E eu? Morro de rir. De absolutamente tudo o que ela faz. Ela (e toda a sua loucura) é capaz de me trazer de volta para o momento presente, suavizar a vida e me fazer ver graça em coisas bobas e simples. Como não rir de um “cachorro-pônei” que acha que pode brincar com sete cachorros ao mesmo tempo? Ou que faz de tudo para ser amiga de Border Collies que, definitivamente, não estão se identificando com o jeito dela? Ou que acha que todas as crianças são cachorros de duas patas e chora de vontade de brincar com elas, quando as vê?
Como não rir dessa loucura?
Eu e meu marido costumamos ser mais reservados, comedidos e levemente antissociais, e até existem cachorros assim, mas o Universo não quis isso pra gente. O Universo nos presenteou com a cachorra mais sociável da história do planeta Terra. Não tem um cachorro no mundo (ou criança) que a minha não queira fazer amizade. E quanto mais ela for ignorada, mais ela quer ser amada.
Menos por mim, é claro.
Existe uma pequena (mentira, é enorme) chance de eu ter comportamentos de relacionamento tóxico com a Fredda, e isso tem prejudicado na evolução do amor dela por mim. Eu sei, não me julguem, isso é errado em qualquer tipo de relacionamento, mas é mais forte do que eu. Eu quero amassar, beijar, apertar. E ela detesta. O pior (pra mim) é que ela faz questão de demonstrar que não gostou, dando uma olhada só de canto e uma bufada bem alta. Eu não tenho culpa, é todo o amor reprimido que existe em mim - e ela é tão fofinha!
Acho que ela ainda está descobrindo se gosta desse meu jeito tóxico ou se prefere manter uma distância mais saudável, para garantir a longevidade do nosso relacionamento. E eu, do outro lado, só queria viver meu conto de fadas, com a minha melhor amiga peluda.
A verdade é que essa Bernese de um ano e 45kg é só uma enorme filhote, que morre de calor o tempo todo e quer ficar sempre por perto, mas sem muito toque - e eu tenho aprendido a lidar com isso, mesmo que seja muito difícil. Se a gente estiver no quarto, ela está lá, se estivermos na sala, ela está lá, se não estamos em casa, ela dá um jeito de pegar uma meia nossa e deitar junto, e quando chegamos é aquela alegria sem fim. Ela nos ama do jeito dela, com muita loucura envolvida e petiscos, é claro.
E é por esse jeito doido e cheio de energia dela, que nós estamos cada vez mais malucos e felizes.
Hoje, a gente dança ao som de Inner Circle ou Sting no meio de um dia comum e caótico. É só colocar a música pra rodar, que a magia acontece. E se eu e meu marido dançarmos ou nos abraçarmos no meio da sala, ela simplesmente vai precisar participar. Ela ama uma farra.
Hoje, a gente brinca de esconde-esconde em um final de domingo, para começar a semana bem. É só eu me esconder que ela já percebe que é bagunça e vai me procurar. Ela ama. Eu também.
Hoje, eu acordo mais feliz porque eu posso abraçá-la e apertá-la antes de sair pra trabalhar, e tudo parece mais leve e melhor.
Hoje, minhas crises de ansiedade diminuíram, minha respiração melhorou e aquele vazio que eu sentia dentro de mim, que me conduzia para uma tristeza profunda, sumiu. E deu espaço para a alegria contagiante da minha Bernese destrambelhada, hiperativa e doida. Doida.
Hoje, a gente relembrou o que é viver de forma mais leve e nos permitir a rir mesmo quando tudo parece difícil. Não é errado se divertir quando a vida não estiver fácil, sabia? Na verdade, eu te recomendo fortemente.
Ria. Tenha um peludo doido. Tenha amor na sua vida.
Ah, e é brincadeira, eu sei que ela me ama muito (eu acho).
Muito amor,
Lambidas cheias de pelos
E mordidinhas carinhosas para vocês,
Meus curiosos.
Até a próxima.
Por certo ,essa é a descrição que temos qdo se tem por perto um nosso amigo,se vc estiver em baixa ,eles te amam mesmo assim,se estiver triste ,eles te amam mesmo assim.
Querem brincar com a gente qualquer hora.
Eu que tenho uma rottweiler de 50 kg ,amolece meu coração qdo vou sair e ela mostra os olhinhos brancos dizendo ;"vai não pai ".
Sua percepção se estar feliz qdo está perto dela , é o que sentimos tbm .
Lindo....
Que lindo texto! A Fredda é uma lindeza, dá vontade de ficar abraçada com ela mesmo.