Somos mais do que o corpo que temos
- alinebmariano7
- 18 de out. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 22 de jun. de 2024
Como uma boa aquariana que não gosta de seguir tendências explícitas, eu assisti ao filme da Barbie na semana passada e enchi um pouco o meu coração levemente “peludo” de rosa. O filme não me impressionou tanto quanto aparentemente impressionou outras pessoas, mas não tem como deixar passar as sacadas geniais quando se trata de empoderamento feminino – que foi marcado, SIM, com muito rosa. Por que não?
Nem toda a "loirice"e beleza da Margot Robie (talvez a única "Barbie estereótipo da vida real) foi capaz de lidar com as frustrações e decepções de ser mulher. Porque a verdade é que não há pele sedosa, cabelo loiro e corpo magro suficientes para o que o mundo espera de nós. Amiga, tá fácil para ninguém!
Estou a anos luz de distância de ser a Barbie estereótipo (aliás, acho que a maioria de nós está). Não tenho nem 1,60m de altura, sou morena (e, às vezes, minha pele reage à poluição com espinhas indesejadas), meus cabelos embaraçam quando está ventando ou quando tem umidade (ou, simplesmente, quando eles estão afim de embaraçar), sou incapaz de me sustentar por algumas horas com saltos desconfortáveis (quem dirá um dia inteiro) e, definitivamente, não sou tão magra. Aliás, sou bem encorpadinha, com um bumbum que, sozinho, tem mais de 1m de circunferência (um inferno para achar uma calça que caiba).
Tenho amigas que são magras e compridas, e acham bonito meu corpo curto e encorpado e eu, em contrapartida [porque nós somos dessas], acho lindos os corpos altos e finos delas. Mas não é que a gente só acha lindo. Às vezes, desejamos, em silêncio, aquele corpo que não temos. Às vezes, nos mutilamos, em silêncio, para conquistarmos um corpo diferente do nosso biotipo. Às vezes, pensamos, em silêncio, que todo mundo é mais bonito do que a gente. E, às vezes, fazemos a besteira de quebrar esse silêncio contando nosso segredo mais íntimo para quem vai usar nossa insegurança contra nós. E acredite, usam mesmo.
Não são só os homens héteros brancos que nos colocam pra baixo - nós também fazemos isso! A gente se coloca pra baixo e puxa a amiga com a gente, e de um jeito tão sutil e inofensivo que nem percebemos. É no comentário da roupa, do batom, do post no Instagram – em tudo. “Gostei desse batom, mas esse tom de vermelho não combina com você, amiga. Usa mais aquele marrom escuro” – um comentário desses pode ser o suficiente para jogarmos fora o nosso batom preferido – é triste, eu sei. Mas essa é só a pontinha do iceberg.
“Nossa, eu vi que você tá postando seus exercícios no Instagram, seu marido não liga que você posta foto de top?”. Honestamente, não tinha pensado nisso até agora, mas minha cabeça altamente eficiente vai pegar esse comentário e achar, daqui para frente, que é um grande absurdo o que eu estou fazendo. E, pior, vou pensar que todo mundo está tendo o mesmo raciocínio que você, como se o mundo fosse um grande complô contra o meu top no Instagram. Pa-ra-béns!
Nosso ego é tão grande e, ao mesmo tempo, tão frágil, que achamos que todo mundo está ligando para a escolha da nossa roupa, para a nossa maquiagem e para as horas que passamos na academia. Alguns ligam, outros não estão nem aí. A verdade é que basta um elogio para acharmos que estamos no caminho certo e basta uma crítica para acharmos que estamos fazendo tudo errado. Sim, somos frágeis nesse nível. E aí vem a dúvida: o que nós achamos de nós mesmas?
Eu tenho certeza de que não sou uma Barbie estereótipo. Eu nunca vou ser alta, loira e magra, e um jeans nunca vai caber em mim sem ajustes na cintura e na barra. E, de verdade? Eu não ligo – ou, pelo menos, não ligo mais. Não vou mentir, eu estou, sim, presa a alguns padrões e gosto de malhar para ter um corpo durinho, mas não vou me mutilar para isso. Eu não quero ir contra o meu biotipo e quero me amar por quem eu sou. Aliás, quem eu sou vai muito além do corpo que eu tenho.
Eu sou focada, esforçada, inteligente e bonita (do meu jeito). Eu faço de tudo para jogar minhas amigas e quem estiver ao meu redor PARA CIMA. Meu ego não é tão frágil a ponto de achar que eu preciso menosprezar alguém para me sentir melhor comigo mesma (e se eu precisar me colocar “para baixo” para fazer uma nova amizade, eu é que não quero essa pessoa na minha vida). Podemos ser todas incríveis juntas, cada uma do seu jeito, seguindo caminhos diferentes. Tem espaço para todo mundo.
Espaço para sermos nós mesmas, para encontrarmos o que gostamos de comer, de fazer, de ler. Precisamos lembrar dos nossos passatempos preferidos, sermos menos radicais com nós mesmas [e com o mundo]. Precisamos nos escutar mais e diminuir o ruído de fora, que assombra nossas cabeças e nossas noites de sono. Nós precisamos, urgentemente, nos afastar de quem tem o dom de usar nossas inseguranças contra nós e começarmos a nos aproximar de quem valoriza o que somos.
A ideia é simples (e difícil, ao mesmo tempo): sermos mais legais com nós mesmas e com o outro [e menos críticas], para atrairmos pessoas legais e, juntos, construirmos um mundo um pouquinho mais gostoso de se viver.
Eu já errei muito e já falei muita besteira e talvez, daqui a algum tempo eu leia esse texto e me arrependa de parte do que eu escrevi. O que eu sei é que estou em busca de ser uma pessoa melhor a cada dia, descobrindo quem eu sou e tentando colocar as pessoas ao meu redor para cima, sempre. Essa é a meta.
Hoje, eu me considero uma mulher segura, de verdade. Segura a ponto de ser capaz de reconhecer outros corpos bonitos, múltiplas inteligências, aptidões e ter orgulho de quando eu vejo uma mulher prosperar. Segura a ponto de não competir mais com amigas e buscar meu próprio caminho, tendo certeza de que estou indo atrás do que é melhor para mim.
Hoje, é a minha segurança (que, às vezes, se abala um tiquinho – não vou mentir) que preenche meu corpo de confiança e me leva para os caminhos que eu quero seguir.
Por mais segurança, confiança [e amor, claro], por favor.
Parabéns prima sucesso, estou adorando os conteúdos