Como deixar a sua filha voar, mãe?
- alinebmariano7
- 12 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Dizem que com a maternidade nasce a preocupação. E eu acredito. Afinal, será possível conseguir controlar aquele bendito corte de um cordão umbilical que uniu duas vidas, dois cheiros e um único amor?
Será possível controlar um amor que é capaz de dominar até os fios de um cabelo prejudicado pelos hormônios instáveis de uma gestação complexa e, ainda assim, que faz parecer que sua vida não tinha sentido até você se tornar mãe?
Será possível criar uma relação de amor mútuo, descompromissado e leve com uma pessoa que não só te deu a vida, como se dedicou de corpo, alma, coração e cada resquício de energia de dias tumultuados para te ensinar o que é certo e errado (na visão dela, é claro)?
Será possível controlar cada gota de sangue que corre nas veias de uma mãe e pulsa quando ela sente que sua filha pode estar correndo perigo em um mundo cheio de caos?
Será possível realmente que uma mãe consiga deixar a sua filha voar?
No meu caso, foi preciso e inegociável. E doeu para ela. Dor latente. Real. Física. Mas eu não pude evitar, porque eu nasci cheia de pares de asas, e voar parecia ser o meu maior compromisso comigo mesma. Voei a pé, de carro, de avião, para o Brasil, para fora do Brasil, acompanhada, sozinha. Voei muitas vezes.
Eu fui demais para ela.
Foram milhares de momentos de briga, desentendimentos e sofrimento da minha parte e da dela, até que a vida (e um pouco meu pai, claro) deu seu jeito de criar situações que eu era obrigada a viajar e a explorar um pouco o mundo. Ela teve que aceitar – não tinha mais jeito - mas cada dia era um pedacinho do coração dela que se partia.
Eu nunca aceitei e nunca entendi. Até hoje.
Apesar de eu não ser mãe, a maturidade (e as tantas asas) me trouxe uma visão menos egocêntrica de mundo, uma visão capaz de, de vez em quando, brincar de ver as coisas sob a perspectiva do outro. Nesse caso, da dela. E caro leitor, nem foi tão difícil, bastou aumentar as lentes oculares e ouvir o que ela tem a dizer.
E quando você entende o quanto de amor que aquela pessoa dedica a você, o quanto da paz dela foi retirada em prol da sua vida, você começa a se tornar uma filha melhor, e uma pessoa melhor. E aprende a acolher e lidar com os traumas, as dores e os medos do outro. Você aprende a lidar com a sua mãe.
Eu aprendi.
Aprendi a escutar, a conversar (e não só falar), aprendi como tentar direcionar os medos dela diante das crenças que ela tem de mundo. E aprendi (acima de tudo) que os medos dela não são os meus, e podemos falar sobre isso.
E ela aprendeu (e entendeu) que dá para confiar em mim. Aprendeu a ver beleza nas minhas asas e em tudo o que meu jeito destemido (porém cheio de medos) foi capaz de fazer.
Hoje, ela diz: “eu queria ter a coragem que você tem, filha.”
E assim reconstruímos nosso relacionamento, o respeito mútuo e o compromisso em sermos boas uma para a outra.
Assim, construímos o que se tornou a nossa história de mãe e filha.
Que sejamos gratos ao amor de mãe,
Que saibamos amar de volta, acolher e aceitar,
Que aprendamos a ser filhos melhores.
E que o mundo seja regado desse amor.
Feliz dia das mães, meus curiosos!
Muito lindo, Aline. Você é uma bela escritora.
Parabéns!!!
Lindo seu texto filha! Me emocionei com as suas palavras!
Que bom que agora você entende as angústias de uma mãe.
Quando você for mãe vai conseguir me entender melhor! Bjs